sábado, 16 de fevereiro de 2013

CNTE INFORMA


Começa a se espalhar pelo Brasil o programa Coordenador de Pais, uma proposta da Fundação Itaú/Todos pela Educação, importada, na íntegra, do sistema de ensino de Nova Iorque (EUA), em que a contratação de pais pelo sistema público de educação deve ser estimulada para envolver esse segmento da comunidade escolar no acompanhamento dos/as filhos/as e das ações escolares.
Tal como em outras iniciativas, infelizmente, uma proposta historicamente defendida pela categoria começa a ser desvirtuada. Foi assim com o conceito de qualidade, onde os detentores do capital emplacaram diversas formas de gestão empresarial nas escolas, e tem sido assim em várias propostas de ciclos, onde a preocupação com a “eficiência” do fluxo escolar - resolvida com a simples aprovação automática - é mais importante do que repensar os tempos e espaços pedagógicos, ou inovar as formas de trabalho e de avaliação dos estudantes e do sistema de ensino.
A gestão democrática é um princípio caro para os/as educadores/as brasileiros/as, e consiste, sim, em aproximar todos os atores em torno do projeto político pedagógico da escola. Porém a integração deve ser autônoma e com estímulo a uma verdadeira democracia participativa - onde pais e mães ajudam a eleger as direções escolares, propõem alternativas ao conteúdo curricular e participam das decisões para superar os problemas que comprometem a aprendizagem dos estudantes. E isso tudo deve ocorrer, permanentemente, através de eleições democráticas nas escolas, de reuniões periódicas incentivadas pelos profissionais e as associações de pais e pela presença constante dos pais em todas as instâncias de decisões sobre as políticas para o sistema de ensino.
Um dos grandes riscos do Programa da Fundação Itaú consiste em transformar o importante segmento de pais de alunos em mais um “braço” do gestor público nas escolas, através de vínculo contratual remunerado. Há tempos a comunidade escolar luta pelo fim do clientelismo escolar e, agora, corre-se o risco de se ver reforçada essa conduta por meio dos pais, pretensamente convocados para uma causa bastante nobre.
O outro problema reside na sobreposição de ações simultaneamente conferidas a pais e profissionais no ambiente escolar. De acordo com os objetivos do Programa, os pais estão aptos a interferir em ações voltadas à disciplina dos estudantes por meio da presença constante nos portões da escola, nos horários de entrada e saída, ou “circulando” pelos corredores durante as aulas, os intervalos e horários da merenda. Além dessa flagrante sobreposição de funções educativas - pois a pedagogia escolar é diferente da familiar -, os estudantes também estarão sob constante vigilância da família, o que tende a inibir seu desenvolvimento psicossocial.
A CNTE não tem dúvidas de que a presença dos pais é essencial para o desempenho estudantil e para a melhor organização da escola. Mas ela tem limites e formas de ser processada. Nunca deve ocorrer por meio de vínculo contratual (empregatício) com o Estado, uma vez que depõe contra valores universais da democracia, especialmente a cidadania, e também não pode colidir com teorias e práticas pedagógicas, muito embora deva acompanhá-las de perto e sugerir adaptações.
Por fim, é preciso deixar claro que a gestão democrática defendida pelos profissionais da educação não limita a participação de pais e mães em ações específicas do cotidiano de seus filhos nas escolas. Eles/as devem participar do processo de elaboração, implementação, execução e avaliação das políticas educacionais, sobretudo com assentos garantidos em todos os conselhos de educação, da escola, da merenda e de controle social sobre os recursos financeiros da educação. Isto, contudo, passa ao largo da proposta reducionista de “coordenador de país” da Fundação Itaú, razão pela qual nos opomos a essa iniciativa.






5 comentários:

  1. A Educação formal existe desde o momento em que optamos por outra pessoa educar meu filho e, isto vem dando certo a muitos anos. É claro que em alguns paíse esta ação está mais desenvolvida, porém o princípio é básicamente o mesmo.
    O ITAÚ já provou a todos que sabe ganhar dinheiro. Ótimo, parabéns! Em se tratando de educação, quem sabe fazê-la somos nós profissionais da educação. O que queremos do ITAÚ é suas contribuições financeiras. Nossas escolas estão repletas de professores jovens, inteligentes e disposto a quebrar paradigmas e levar seus alunos a romperem fronteiras e vislumbrar o país da sapiência.
    Prof. Sales

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  2. Professor Sales, está ai uma pessoa que merece toda a nossa credibilidade, por suas ações. Faço minhas as suas sábias palavras. Quem entende de educação são os educadores e não bancários.

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  3. MINHA GALERA ME DESCULPA; MAS HOJE EU RELAXEI, AMANHÃ EU RESPONDO A TODOS.

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  4. "Além dessa flagrante sobreposição de funções educativas - pois a pedagogia escolar é diferente da familiar -, os estudantes também estarão sob constante vigilância da família, o que tende a inibir seu desenvolvimento psicossocial."

    Em relação à frase acima, discordo completamente. Não sou educador, fui educando, e comparando a educação de algumas décadas atrás, posso afirmar que faz muito tempo que a escola passou a ser uma extensão da família do educando. Se não o é, como explicar a figura do "tio" dando aula? Cadê o "senhor, a senhora, o professor a e professora" para os educandos.

    Faz muito tempo que a educação foi desvirtuada.

    Se hoje uma entidade privada interfere com sugestões, é porque a gestão pública a que você se refere, faliu. A educação pública não ensina mais, só engana. Só não ver quem quer se fazer de cego.

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    1. É verdade, a educação publica brasileira faliu.

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